Da serra ao mar
O convite era claro.
Queres almoçar comigo? Num cantinho o Sim , no outro o Não (que ele sabe que é Sim também).
Fazemo-nos deste pequenos mimos. Encontros quase clandestinos, só porque sim. Almoços quase sempre roubados à rotina dos dias.
Depois do almoço, ele volta para o trabalho, e eu fico ali com a minha mota, a ler-lhe a vontade. Há no horizonte uma outra perspetiva da Serra do Montejunto. É o outro lado da montanha.
Atrevo-me a deixar para trás o conhecido. Sigo sem rumo, sem horários para cumprir, que a noite se arrastou em relatórios pela madrugada.
Ofereço-me, primeiro, as curvas a que já me vou habituando, com as vistas do costume.
E, na encruzilhada, opto pelo que é novo. Há um mundo por descobrir nesta minha Serra de Montejunto.
Às vezes, muitas vezes, o medo também me impulsiona. Sinto um formigueiro na barriga, se passo por um caminho tentador, e volto para trás, e subo até ao alto, só pelo prazer de conseguir. Lá em cima, tenho o mundo a meus pés!
Desço, ainda sem rumo, pelo outro lado. Intrigo-me. Quantos lados tem uma montanha?
Apetece-me, já, um pouco do cheiro da maresia. Atravesso as terras que me levam até ao mar e, mesmo aqui, consigo descobrir coisas que nunca antes vira. Pergunto-me se isto já aqui estaria das outras mil vezes em que passei... de carro.
O mar preparou-me uma surpresa e fez-se todo de suavidades. É Santa Rita, mas podia ser outra praia qualquer. Não interessa. O destino não interessa, apenas o caminho.
Paro para um café, apenas. O tempo de começar a chover...
O tempo para a vontade de regressar a casa.
Boas curvas!