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De batom e capacete

De batom e capacete

28
Set16

Desabafos

Dora Sofia

O início do ano letivo está a ser difícil. 

Subo para cima da mota. Quando rodar a chave, ligar a ignição, os sentimentos vão misturar-se com a velocidade e vão ficar espalhados pelo ar... A mota descontrai-me.

Desta vez não prendo o cabelo. Quero os cabelos ao vento. Quero que saibam quem eu sou...

Quero pensar em coisas boas. Penso em coisas boas. 

 

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 E depois penso que nunca devia ter feito este test-drive... Raios!

E, agora, há também as Café Racer a deixar-me de água na boca. Espreitem só como elas são TÃO lindas... A EVA é da: Maria Motorcycles!! Uma inspiração (mais uma...) para não deixar de sonhar!

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O início do ano letivo está a ser difícil. 

Felizmente, posso vir da escola de mota, para deixar a escola na escola.

 

Boas curvas!

26
Set16

Benção dos capacetes 2017

Dora Sofia

Eu devia escrever sobre as borboletas na barriga que se agitaram logo, logo, enquanto o rapaz preparava as motas. Da janela da cozinha conseguia vê-lo muito bem a verificar tudo, ajustar os parafusos do vidro, lavar, pôr óleo, limpar as viseiras... E eu cheiinha de borboletas na barriga. Sabem aquela sensação de fazer as malas antes de uma viagem? É a mesma! Íamos à Benção dos Capacetes.

Devia escrever sobre a novidade de andar de mota com um grupo.

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Bem, podem dizer que já andei em grupo, no Portugal de lés-a-lés. E andei. Mas não é a mesma coisa. Aqui a ideia era sair de casa com o grupo e seguirmos até Fátima. Ora, alguns deles sabem bem que ando de mota há pouco tempo... E, depois, há sempre o tal pormenor... sou mulher! Por isso, andei meia dúzia de quilómetros com a sensação desagradável de achar que tinha todos os olhares sobre mim, como se tivesse de fazer tudo bem feito. Mas, depois, houve um momento, aquele momento!, em que o vento no rosto e o acelerador na mão foram mais fortes do que tudo, e lembro-me de ter pensado "Que se dane! Aprecia a viagem!". E larguei estrada fora. Eu e a minha mota, com os olhos na mota da frente. Quero lá saber!...

Também devia escrever sobre a emoção das estradas repletas de motas, sobre a emoção de um missa para milhares de motards, sobre a emoção de, mais uma vez, perceber como somos tão diferentes e como partilhamos o mesmo gosto pelas motas. E somos muitos! De diferentes formas e feitios... como as motas que por lá páram.

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Podia escrever sobre o prazer que tenho em conhecer lugares. Os sítios são tão diferentes quando andamos de mota! Tão diferentes, que, às vezes, muitas vezes, era capaz de jurar que nunca passei ali...É tudo tão novo.

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Mas não, não vou escrever sobre isso. Isso já passou. 

Vou escrever sobre o dia depois do dia da Benção dos Capacetes. Vou escrever sobre as viagens dos dias. Vou escrever sobre viagens de ir ali ao lado. Todas as viagens são boas!

Trinta quilómetros de casa. Trinta para lá, mais trinta para cá. E que bem que me souberam... Adoro andar de mota! As curvas do Oeste são uma coisa sem explicação. Entre Torres Vedras e o Bombarral, há muito alcatrão para se ser feliz!! 

Sim, bem sei que não são os caminhos que hei de percorrer com a GS (um dia...), mas eles estão lá, que eu bem os vejo, e são uma provocação.

Enquanto isso, vamo-nos fazendo às curvas, eu e a Branquinha. 

 

Boas curvas!

 

20
Set16

Vestida para matar... estrada!!

Dora Sofia

Visto o casaco. Faço uma trança apressada, ou, no limite, prendo o cabelo com dois elásticos. Debaixo do casaco, a blusa de cetim revela o dia de trabalho. Debaixo do capacete, o batom define o prazer de ser mulher.

E sigo. Se é um dia bom, consigo fazer um desvio de meia dúzia de kilómetros, só para ir ali ao lado passear as ideias... antes ou depois do trabalho... antes ou depois do supermercado... antes ou depois do ginásio...

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Não encontro desculpas para não andar de mota: a roupa certa protege-me do frio, do calor, do vento, da chuva, dos rails...

Sim, eu sei que há quem imagine que, se sou mulher, e se ando de mota, então, visto-me assim:

2.jpegimagem daqui

 

 

Errado! Muito errado.

Para andar de mota, não uso "stilettos", não ponho uma saia, não escolho calções. Quem anda de mota, sabe bem porquê. Usar "stilettos" tornaria a utilização dos pedais tão facilitada como se tivéssemos patas de elefantes; já quanto ao resto, sei por experiência que umas calças com proteção podem garantir uns quantos cortes a menos na pele e, até no calor, o melhor é seguir o lema "mais vale suar do que sangrar!"

Não vou deixar de ser quem sou, porque ando de mota. Também não vou deixar de me vestir como gosto, porque ando de mota.

Mas também não tenho de vestir-me assim:

anatomia do motard.jpgimagem daqui

Debaixo do casaco esconde-se a roupa que eu quiser:  uma camisola mais informal, uma blusa para a escola, uma t-shirt para o ginásio... 

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Posso até vestir-me como a Skinny , mas noutra cor. Pode ser? 

Skinny_27.jpgimagem daqui 

E, já agora, com outro "ursinho". Pode ser? Pode? Pode?...

 

 

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Boas curvas! 

13
Set16

De Faro a Góis: kit básico de sobrevivência para mulheres

Dora Sofia

Nem é que eu seja muito de esquisitices ou dada a xiliques com o pó e casas de banho públicas, mas, e apesar dos avisos dos experientes nestas andanças, uma mulher tem de se preparar em casa. E não, não levo as malas da mota do marido cheias de roupas e maquilhagem, como ele apregoa aos sete ventos, mas já construí o meu kit básico de sobrevivência.

Devem estar a pensar que a primeira coisa é o batom, certo? Não, errado! O batom faz parte do meu kit de sobrevivência de todos os dias. É... eu sou mulher, e gosto!

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 Mas se repararem bem na imagem, conseguem ver ali mesmo em frente à tenda o primeiro objeto: uns chinelos de banho. Para mim, bem altos, de preferência, para que, de cada vez que vamos tomar banho, não fiquemos com os pés assentes em... água... suja...

Bem, a  primeira coisa é, na realidade, duas coisas: os chinelos e um bikini. O bikini porque percebes, rapidamente, que com um biquini nunca estás nua e podes sair da tenda, entrar na tenda, tomar banho, sair do banho, sem estar de roupa interior... Trocas de camisola, vais tomar um duche, danças até ficares descamisada... enfim, estás de biquini!

Afinal, nas concentrações, é mesmo nos banhos que tu percebes se és capaz de voltar outra vez, ou se gosto muito de motas, mas não obrigada...

Confesso que, em Faro, os banhos foram pacíficos. Estavam 43º por lá, lembram-se? Ultrapassada a estranheza de tomar banho debaixo de uns chuveiros improvisados (tubos com chuveiros pendurados de metro em metro), ultrapassada a estranheza de partilhar o banho com mais 20 ou 30 motards, como orgia-em-versão-banho, ultrapassada a estranheza de não ter água quente (logo eu que, se, por acaso, acaba o gás e eu de espuma no cabelo, saio à rua assim mesmo e digo que é penteado novo), ultrapassado tudo isso, foi fácil. Estavam 43º e isso era suficiente.

Já em Góis, estava frio. Um nevoeiro horrivel, umas nuvens sombrias e vestígios da chuva da noite, afastaram por momentos a ideia. Mas, depois, fui até lá. Foi o meu erro. Entro no corredor dos chuveiros, como condenado no corredor da morte, e ouço os gritos dos homens (sim, só havia homens!) de cada vez que a água lhes caía em cima. Olham-me de lado, têm a certeza que eu não vou conseguir, leio-lhes nos olhos. Sinto os sorrisos críticos quando o meu marido me avisa "esquece! é impossível!". Eu estou ali ao lado dele, ele a ensaboar-se já, e eu a ver todos à espera que eu me retire. De repente, sei lá porquê, lembro-me do Afonso da Maia e dos banhos no tanque no inverno ao coitado do Carlos. Caramba, miúda, penso, és algum Eusebiozinho? E atiro-me para debaixo do chuveiro! Pronto, eu confesso que ia dar um gritinho daqueles à desenho animado japonês, mas consegui engoli-lo a tempo. E é quando eu vejo a surpresa e o espanto nos olhos dos outros que eu percebo que vou continuar a ir às concentrações, porque sou mais Carlos do que Eusébiozinho... ainda que o grito continue aqui preso na garganta, só, só de pensar.

Depois, no kit, tesoura, uma agulha e linhas de costura.

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Estranho?! Nem por isso. Se forem mulheres e foram a concentrações sabem que as t-shirts que eles nos dão são todas a pensar em homens, sem gracinha, sem estilo próprio. Enfim, todas iguais. Bem, e eu detesto ser igual! Por isso, uma tesourinha pequena e umas linhazitas fazem milagres:

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 Por fim, algumas dicas preciosas:

Uma garrafa de água, mesmo em cima da mota, para lavar os dentes, a cara, as mãos, poupa-te imensas viagens às casas de banho; e um saco do lixo ao lado da tenda evita que daqui a uns anos não tenhas sítios lindos para concentrações...

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E, claro, não esquecer a máquina fotográfica, ou telemóvel "fotográfico", ou qualquer coisa do género...

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 Que tal? Esqueci-me de alguma coisa? O que consideram que faz falta no meu kit?

 

 

 

 

02
Set16

De Faro a Góis: entre o mundo e a minha aldeia

Dora Sofia

Fomos a Faro! Suficientemente loucos para não esperarmos pelo fim da tarde, enfrentámos os 43 graus que marcavam na planície alentejana. A ideia era ir só ali ao restaurante da esquina almoçar e esperar que as horas ensombrassem o dia, mas, como sempre, o mal é começarmos a andar, ouvirmo-las e percebermos que podemos, se quisermos, continuar... Queremos sempre! Com direito a paragem para refrescar debaixo da água das estações de serviço, só parámos em Faro. Quentes e felizes.

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A concentração de Faro é um mundo. Um mundo de paixão pelas motas, um mundo de gente diferente, um mundo de gente estrangeira, estranha e maravilhosa. Um mundo onde o barulho ininterrupto, constante e brutal das motas se apodera de ti.Infiltra-se na pele, juntamente com a poeira do chão e dá-te uma sensação de liberdade, uma sensação de todo o tempo. Faro é Álvaro de Campos, "Sentir tudo de todas as maneiras/Viver tudo de todos os lados,". Quero voltar a este poema no próximo no ano, e no próximo, e no próximo... 

IMG_20160716_131347.jpgDepois, fomos a Góis. Voltámos a Góis. Com, quase!, todo o tempo do mundo.  Deliciámo-nos com as curvas que nos levam até lá (sim, surpreende-me, ainda, o prazer de cada curva!!) e enfrentámos as sombras do arvoredo que anunciavam a chuva do dia seguinte. Tal como não me incomoda o sol escaldante de Faro, também não me incomoda a chuva de Góis. 

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A concentração de Góis é a aldeia onde eu nasci. A mesma paixão pelas motas, mas gente que é, quase sempre, como a gente, onde há famílias que estão por ali de férias (alguns vieram de carro...), ou grupos de rapazes e raparigas mais novos que só vêm pela noite, para a música, para a cerveja, para os namoros, ou grupos de "homens" que aproveitam para estar um pouco longe das mulheres e beber cervejas, sem que a todo o momento lhes digam "estás a beber demais" e que, por isso, bebem demais, e passam o dia seguinte a dormir. Em Góis não se ouvem as motas de noite, mas acordas com os " rateres" das motorizadas barulhentas dos teenagers.

Em Góis, há um espírito de intimidade, de "portuguesismo" que é genuíno. Góis é Caeiro, "E por isso porque pertence a menos gente,/É mais livre e maior o rio da minha aldeia." Também quero voltar a este poema, porque é belo e sinto que faço parte dele.

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(continua...)

 

Boas curvas!

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