De Faro a Góis: entre o mundo e a minha aldeia
Fomos a Faro! Suficientemente loucos para não esperarmos pelo fim da tarde, enfrentámos os 43 graus que marcavam na planície alentejana. A ideia era ir só ali ao restaurante da esquina almoçar e esperar que as horas ensombrassem o dia, mas, como sempre, o mal é começarmos a andar, ouvirmo-las e percebermos que podemos, se quisermos, continuar... Queremos sempre! Com direito a paragem para refrescar debaixo da água das estações de serviço, só parámos em Faro. Quentes e felizes.
A concentração de Faro é um mundo. Um mundo de paixão pelas motas, um mundo de gente diferente, um mundo de gente estrangeira, estranha e maravilhosa. Um mundo onde o barulho ininterrupto, constante e brutal das motas se apodera de ti.Infiltra-se na pele, juntamente com a poeira do chão e dá-te uma sensação de liberdade, uma sensação de todo o tempo. Faro é Álvaro de Campos, "Sentir tudo de todas as maneiras/Viver tudo de todos os lados,". Quero voltar a este poema no próximo no ano, e no próximo, e no próximo...
Depois, fomos a Góis. Voltámos a Góis. Com, quase!, todo o tempo do mundo. Deliciámo-nos com as curvas que nos levam até lá (sim, surpreende-me, ainda, o prazer de cada curva!!) e enfrentámos as sombras do arvoredo que anunciavam a chuva do dia seguinte. Tal como não me incomoda o sol escaldante de Faro, também não me incomoda a chuva de Góis.
A concentração de Góis é a aldeia onde eu nasci. A mesma paixão pelas motas, mas gente que é, quase sempre, como a gente, onde há famílias que estão por ali de férias (alguns vieram de carro...), ou grupos de rapazes e raparigas mais novos que só vêm pela noite, para a música, para a cerveja, para os namoros, ou grupos de "homens" que aproveitam para estar um pouco longe das mulheres e beber cervejas, sem que a todo o momento lhes digam "estás a beber demais" e que, por isso, bebem demais, e passam o dia seguinte a dormir. Em Góis não se ouvem as motas de noite, mas acordas com os " rateres" das motorizadas barulhentas dos teenagers.
Em Góis, há um espírito de intimidade, de "portuguesismo" que é genuíno. Góis é Caeiro, "E por isso porque pertence a menos gente,/É mais livre e maior o rio da minha aldeia." Também quero voltar a este poema, porque é belo e sinto que faço parte dele.
(continua...)
Boas curvas!