Road Miles Chalenge: 300 milhas de emoções!
Fomos ao Road Miles - Motorcycle RoadBook Challenge.
Não resistimos à provocação. Desafio, superação, e um percurso cheiinho de belas paisagens eram atrativos mais do que suficientes para nos convencerem, e, por isso, quando ele acenou com o convite, ou eu, já não sei bem, antes que o outro dissesse que sim, já estávamos inscritos...
Só depois reparei que o evento estava direcionado para a vertente moto turística de aventura. Bem, a minha Branquinha não é bem o que se pode considerar uma moto turística de aventura, mas aventureira, ela é, e gosta de rolar, por isso, à chegada... o costume! Uma pequena entre grandes. O marido diz que ela é como o papagaio dos 102 dálmatas que estava convencido que era um cão e gritava :"Sou um rotweiler! Sou um rotweiler!". A minha Branquinha também deve julgar que é grande: "Sou uma big trail! sou uma big trail!"
O Road Miles foi uma montanha russa de emoções. Não pelos quilómetros percorridos (já o ano passado tínhamos feito os 700 de uma das etapas do Portugal de lés-a-lés), mas pelo espírito de ultrapassar aquelas curvas (eu e as curvas em descidas, e a velocidade...) e chegar ao fim e continuar, ainda, a gostar de andar de mota. Gosto. Ainda!
A nossa base, e ponto de encontro, era o Hotel dos Templários, em Tomar (sim, sim, nem só de poeira e tendas de campismo vive um motociclista!). Cada um de nós seguiu pelo caminho mais longo, porque a logística familiar obriga a estes desvios de fazer sempre mais umas centenas de quilómetros. Mas, chegados, houve tempo para um mergulhinho na piscina, um jantarzinho a namorar, uma cerveja nas ruas de Tomar, que estava em festa, mesmo antes do briefing, onde a Organização (nota 10!!) nos acenou com um passeio repleto de boas curvas!
Na hora de partir, o sol começava a brilhar lá atrás e prometia-nos um dia maravilhoso! Nós agarrámos a deixa, e deixámo-nos levar guiados por ele e pelo RoadBook.
O percurso foi, como anunciado, marcado por lugares bonitos, para ver, conhecer, visitar. De Tomar a Tomar, pela Nazaré, S. Martinho do Porto, Alcobaça, Chamusca, Serra de Aires e Candeeiros, Olhos de Água , Mação, Oleiros, Dornes... Mas os quilómetros pela frente não nos deixavam descuidar; bem, os quilómetros e o rapaz da GSA que vai à minha frente e que me deixa de cabelos em pé, porque acha sempre que passa muito tempo à minha espera. Ainda assim, consegui enganá-lo nas primeiras paragens e tirar umas fotografias.
Lugares cheios de história e com muitas histórias com gente lá dentro. Gente que vamos conhecendo, gente com quem nos identificamos, nisto e naquilo, e com quem temos sempre em comum a paixão pelas motas.
A paragem em Oleiros, na praia fluvial, onde fomos tão bem recebidos, deu para recarregar energias, mas à medida que o desafio avançava sentia-me mais cansada e fui percebendo que talvez estivesse apenas a ser egoísta por querer fazer equipa com o meu amor grande. Foi uma visão nova destes eventos! Afinal, se é verdade que eu o consigo acompanhar, só o consigo fazer porque ele vai muuuiiiito mais devagar do que o que decerto gostaria, por outro lado, ele segue à frente, mas com uma constante preocupação de que eu venha logo ali atrás, e, depois, bem, depois, eu quero que ele se divirta! E, no final, à chegada ao Hotel não lhe disse as palavras do costume "voltamos outra vez no próximo!", mas antes "tens de começar a vir sozinho!". Ele olhou para mim com aquele ar de "estás doida!" e disse-me " mas eu quero vir contigo! Eu gosto de vir contigo!"
E pronto! Tentei não pensar mais no assunto, porque, depois de 500 quilómetros de estrada, sabe mesmo, mesmo bem, chegares ao Hotel, beberes um gin, e ouvires o pianista tocar uma música agradável, enquanto respiras um pouco, e antecipas o teu banho demorado e um jantar em boa companhia.
Mas as emoções não ficariam por ali. No dia seguinte eu lembrei-o que talvez a minha inexperiência não pudesse fazer equipa com os anos que ele tem a andar de mota. Talvez a vontade não fosse suficiente. E ele repondeu que não, não era isso. Faltava-me dar o salto. Só isso.
Íamos receber os certificados. A organização tinha uns prémios para os três mais regulares a cumprir as 300 e as 500 milhas, e eu pensava naquilo que ele me dissera. Afinal, era fácil, se só tinha de melhorar, só precisava mesmo era de... andar de mota !
Vemos a lista de classificação. Não ficámos em primeiro (o que seria impossível, com o número de vezes que ele voltou para trás), mas não ficámos em último ( o que também era improvável, uma vez que era suposto cumprirmos os limites de velocidade e nisso estava lá eu para ajudar...); aliás ficámos antes do meio da tabela, o que não é nada nada mau.
Depois, veio a surpresa! "E temos aqui uma lembrancinha para a Dora, que foi a única senhora a terminar o Road Miles!"
A sério?!! Sabem lá o que umas palavrinhas destas fazem ao ego ferido de uma motociclista? Sim, sim, porque se eu estava um pouco desalentada por não conseguir acompanhar o marido nestas voltas de mota, e estas palavrinhas devolveram-me a vontade. Aquela vontade de ir mais longe, fazer melhor, desafiar-me!
O prémio foi bom, mas o melhor foi este reconhecimento. Obrigada! Obrigada! Aos organizadores, pelo miminho; aos patrocinadores, que contribuíram com os prémios (e que recheada vinha a mochila da WB-40!!) e... claro! ao rapaz da GSA, que tem uma paciência incomensurável à minha espera, que me serve de guia, e que, quando eu falho (quase nunca, quase nunca!), em vez de me dizer "desiste", me diz "tu és capaz!".
Voltamos outra vez no próximo!
Boas curvas!