Eu devia escrever sobre as borboletas na barriga que se agitaram logo, logo, enquanto o rapaz preparava as motas. Da janela da cozinha conseguia vê-lo muito bem a verificar tudo, ajustar os parafusos do vidro, lavar, pôr óleo, limpar as viseiras... E eu cheiinha de borboletas na barriga. Sabem aquela sensação de fazer as malas antes de uma viagem? É a mesma! Íamos à Benção dos Capacetes.
Devia escrever sobre a novidade de andar de mota com um grupo.
Bem, podem dizer que já andei em grupo, no Portugal de lés-a-lés. E andei. Mas não é a mesma coisa. Aqui a ideia era sair de casa com o grupo e seguirmos até Fátima. Ora, alguns deles sabem bem que ando de mota há pouco tempo... E, depois, há sempre o tal pormenor... sou mulher! Por isso, andei meia dúzia de quilómetros com a sensação desagradável de achar que tinha todos os olhares sobre mim, como se tivesse de fazer tudo bem feito. Mas, depois, houve um momento, aquele momento!, em que o vento no rosto e o acelerador na mão foram mais fortes do que tudo, e lembro-me de ter pensado "Que se dane! Aprecia a viagem!". E larguei estrada fora. Eu e a minha mota, com os olhos na mota da frente. Quero lá saber!...
Também devia escrever sobre a emoção das estradas repletas de motas, sobre a emoção de um missa para milhares de motards, sobre a emoção de, mais uma vez, perceber como somos tão diferentes e como partilhamos o mesmo gosto pelas motas. E somos muitos! De diferentes formas e feitios... como as motas que por lá páram.
Podia escrever sobre o prazer que tenho em conhecer lugares. Os sítios são tão diferentes quando andamos de mota! Tão diferentes, que, às vezes, muitas vezes, era capaz de jurar que nunca passei ali...É tudo tão novo.
Mas não, não vou escrever sobre isso. Isso já passou.
Vou escrever sobre o dia depois do dia da Benção dos Capacetes. Vou escrever sobre as viagens dos dias. Vou escrever sobre viagens de ir ali ao lado. Todas as viagens são boas!
Trinta quilómetros de casa. Trinta para lá, mais trinta para cá. E que bem que me souberam... Adoro andar de mota! As curvas do Oeste são uma coisa sem explicação. Entre Torres Vedras e o Bombarral, há muito alcatrão para se ser feliz!!
Sim, bem sei que não são os caminhos que hei de percorrer com a GS (um dia...), mas eles estão lá, que eu bem os vejo, e são uma provocação.
Enquanto isso, vamo-nos fazendo às curvas, eu e a Branquinha.
Boas curvas!